A cuca macabra

*Felipe Pereira


O pequeno Francisco dormia sossegadamente na cama de ferro. Seus pais acordavam com o sol para a labuta diária e apenas voltavam quando a noite chegava.

A criança, de apenas dois anos, ficava aos cuidados de uma jovem de quinze anos. Como pagamento, a menina recebia abrigo e comida.

Marta, a adolescente que cuidava de Francisco, chegou à estância em uma noite fria e tempestuosa. Ela relatou aos proprietários que estava fugindo do pai agressor. Os pais de Francisco, compadecidos pelo desespero da garota, decidiram deixá-la ficar entre eles. Ela cuidava bem da casa e do menino.

Certa manhã, como de costume, os pais do menininho saíram para o campo, afim de cuidar do plantio. Marta, então, resolvera colocar em ação o seu plano. A adolescente era, na verdade, a Cuca (uma bruxa com cabeça de jacaré e cabelos bagunçados). A Cuca, certo dia, sentiu o cheiro de Francisco e fazia algum tempo que ela não se alimentava de carne humana, então decidiu se infiltrar na casa como uma adolescente desesperada, até mesmo uma forte tempestade ela provocou, para dar um ar mais sinistro e dramático. Marta, a bruxa com feições reptilianas, gostava de fazer uma boa cena teatral, matar com estilo.

A bruxa com cabeça de jacaré, aproveitando as ausências dos pais e o sono pesado do menino, decidiu assumir sua verdadeira e monstruosa forma. Ela encarou longamente a criancinha, tão frágil e pequena. A Cuca riu com demorado prazer, havia muito tempo que não provava o sabor agridoce da carne de uma criança.

— Dorme neném que a Cuca vem pegar! Papai foi pra roça e mamãe foi trabalhar. — entoou a bruxa, sentindo-se excitada pelo aperitivo que degustaria. Ela continuou cantando, cada vez com mais ferocidade.

O pequeno Francisco suspirou, mas não acordou. Tamanha era sua inocência, uma carne pura. Esses eram os pensamentos da bruxa.

— É uma pena ter que ser assim. — Disse a Cuca, sem sentir nenhum remorso. — Porém, sou uma predadora e preciso muito me alimentar.

A perversa passou suas garras lentamente no menino. Deixando finos traços de sangue por onde elas passavam.

Por fim, não se aguentando mais, a Cuca pegou a criança e começou a devorá-la. Primeiro mastigou a cabeça, o pescoço, tórax e por último engoliu os pezinhos.

Após estar saciada, ela tornou a ser a adolescente Marta, ajuntou seus poucos pertences e partiu.

*Estudante de contabilidade, morador em Nova Andradina e autor de livros

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal da Nova

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